quarta-feira, 16 de abril de 2014

Meliponinae - Nossas abelhas indígenas

Colmeia de Jandaira - Foto por Leonardo Jales Leitão


Abelha é a denominação comum de vários insetos pertencentes à ordem Hymenoptera, da superfamília Apoidea, subgrupo Anthophila, aparentados das vespas e formigas. Atualmente são conhecidas mais de 20.000 espécies, porém pela descoberta de novas espécies a cada ano nas América Central, do Sul, África e Austrália, estima-se que esse número seja muito maior.


Melipona marginata
http://www.ib.usp.br/vinces/weblabs/abelhas/imagens/Melipona%20bicolor%20worker%20white%20backgr2.jpg


Acredita-se que as primeiras abelhas surgiram das vespas, insetos já citados do mesmo subgrupo Anthophila. A características mais distinta entre as duas esta no hábito alimentar enquanto as vespas caçam outro insetos e aranhas para alimentar suas crias, as abelhas com raras exceções, apenas utilizam-se de produtos de origem vegetal, tais como pólen, néctar e óleos que coletam das flores.

O processo evolutivo que deu origem às abelhas iniciou-se no período geológico conhecido como Cretáceo (146 a 76 milhões de anos atrás) com o surgimento das primeiras plantas que produziam flores. Até então, os vegetais existentes reproduziam-se basicamente por meio de esporos, como aliás as samambaias o fazem até hoje.

Trigona prisca

Com o surgimento das primeiras plantas com flores, as vespas da época passaram a ter uma nova fonte de alimentos para suas crias. Inicialmente o pólen e o néctar representavam apenas um complemento alimentar que tais vespas oferecia as suas larvas. Posteriormente, aquelas espécies de vespas que conseguiam coletar pólen e néctar com mais eficiência, podem ter mudado gradualmente para uma dieta exclusivamente vegeta, por ser mais fácil coletar pólen, néctar e óleos vegetais do que caçar outro inseto. Com o tempo deixaram de caçar totalmente, tornaram-se então dependente das plantas, havia surgido as abelhas.

A data exata do aparecimento das primeiras abelhas não é conhecida, mas sabe-se que no foi no período Cretáceo, já que não existiam flores antes dessa época (140 milhões de anos atrás). Por outro, o fóssil mais antigo que se conhece  possui pelo menos 74 milhões de anos, mas já trata-se de uma abelha operária da espécie denominada Trigona prisca, hoje extinta. Considerando-se que as primeiras abelhas devem ter sido solitárias, como as vespas que as deram origem, e a evolução para a vida em sociedade levaria alguns milhões de anos, é de esperar-se que as primeiras abelhas tenham mesmo surgido entre 130 a 120 milhões de anos atrás.
Trigona prisca, uma abelha sem ferrão (Apidae; Meliponinae), é relatada a partir de âmbar Cretáceo New Jersey (96-74000000 anos antes do presente). Isso é cerca de duas vezes a idade do mais antigo fóssil de abelha previamente conhecido, embora Trigona é um dos gêneros mais derivados de abelhas. T.prisca é muito similar às espécies neotropicais modernas. A maioria da evolução abelha provavelmente ocorreu durante os anos de ≈ 50 milhões entre o início do Cretáceo, quando as plantas com flores (em que as abelhas dependem) apareceu eo tempo de T. prisca. Desde então, nesta linha phyletic de meliponíneos, houve quase nenhuma evolução morfológica. Uma vez que o fóssil é uma operária, a organização social surgiram pelo seu tempo.

Melipna fasciculata

Na época do surgimento das abelhas, os continentes atuais do nosso planeta apenas tinham começado a separarem-se uns dos outros, possibilitando que as abelhas primitivas de então espalhassem-se por todos eles. Isso explica porque atualmente encontramos espécies de abelhas nativas em toda a superfície terrestre onde haja flores. Assim sendo, as abelhas são encontradas desde as florestas e matas tropicais, aos locais mais inóspitos como o Ártico, os Andes e Himalaia, regiões semi-áridas (a Caatinga do Nordeste, por exemplo) e desertos como o do Arizona (EUA) e de Israel.

A vida em locais tão diversos em clima, vegetação, luminosidade, temperatura, pluviosidade, predadores, opções para nidificação, etc., propiciou o surgimento da diversidade de espécies de abelhas que hoje habitam o planeta. Existem mais de 20.000 espécies conhecidas de abelhas ao redor do mundo.

As muitas espécies de abelhas também evoluíram distintamente no que diz respeito a sociabilidade. Enquanto algumas espécies continuaram solitárias, com cada fêmea construindo o seu próprio ninho e criando sozinha alguns poucos filhotes, outras espécies desenvolveram vários níveis de sociabilidade que vão
desde o compartilhamento de áreas de nidificação até a formação de colônias permanentes de milhares de indivíduos.




 As abelhas pertencem a família Apidae. Esta família possui duas subfamília:
  • Meliponinae - São sem ferrão, chamadas de abelhas indígenas, vivem
    em regiões subtropicais e tropicais. Possuem três tribos: Lestrimellitini, Trigonini e Meliponini;
  • Apinae - Encontramos os gêneros Apis e Bombus que possuem ferrão. No gênero Apis encontramos quatro espécies entre elas esta o Apis Mellifera que é a espécie mais utilizada para a produção de mel no mundo todo. Apesar de nossas abelhas indígenas não possuir ferrão, elas não são largamente utilizada para a produção de mel, porque sua produção e baixa em relação as abelhas sociais do grupo das africanizadas;
  • Apis Mellifera Adansonii - Habitam da África do sul até o sul do Saara. São abelhas muito agressivas, polinizadoras e enxameadoras. Foram introduzidas no Brasil por volta de 1956;
  • Apis Mellifera Lamarckii - São encontradas no vale do rio Nilo, também conhecidas como "Abelhas egípcias". São muito bravas, de baixa produtividade e não se adaptam muito bem as diversas praticas apícolas;
  • Apis Mellifera Ligustica - chamadas de "Abelhas Italianas", são encontradas na Itália e no litoral norte da Iugoslávia. São muito mansas, ficam calmas nos favos quando se faz o manuseio, são pouco enxameadoras. Foram introduzidas no Brasil por volta de 1879/1880;
  • Apis Mellifera Mellifera - Chamadas também de "Abelhas do Reino", são encontradas por quase todo a Europa. São muito mansas, mas ficam muito agitadas durante o manuseio.

As nativas Melipoeníneas 





As abelhas indígenas sem ferrão estão aqui muito antes das esquadras de Cabral aportarem em nosso litoral há quase cinco séculos. Como hábeis polinizadoras da flora nativa, voam por ai de flor em flor, produzindo seu mel de ótima qualidade. Pena que nem podemos chama-lo de mel. Pois absurdo que seja, a legislação vigente se baseia nos padrões físico-químicos do mel produzido por abelhas estrangeiras (Apis mellifera) - esse que encontramos nas prateleiras de qualquer supermercado. Para ser "considerado" mel, o produto das abelhas indígenas deveria ter umidade máxima de 20% - mas chega a 35% - e, no mínimo, 65% de açúcares redutores (tem 50%). Por isso o "mel" de Jataís, mandaçais, canudos, borás, continua desconhecido, diria até clandestino. Caso fosse uma questão de saúde, a produção do precioso mel nativo deveria ser incentivado, sendo este com maior poder antibiótico. Sendo ácido, fluído e floral, exótico como tudo nesta bela terra. Infelizmente a lei que regulamenta a produção de alimentos de origem animal, data de 29 de março de 1952, assinada por o então presidente Getúlio Vargas, e é a que ainda continua em vigor.



Os Meliponíneos se dividem em duas grandes tribos  - Meliponini e Trigonini.

A tribo trigonini é caracterizada pela presença de célula real. Geralmente apresenta um canudo de ingresso feito de cera, algumas delas são muito agressivas como a oxiotrigona tataíra (caga-fogo) que ao ser manejada solta uma substância ácida queimando a pele. As scaptotrigonas são conhecidas pela sua alta agressividade, tubuna, tubiba, depilis, canudo, mandaguari possuindo também abelhas necrófagas que produzem sub-produtos de carne podre.

Os Meliponíni, são caracterizados por não apresentarem célula real, até 25% das crias de um favo poderão nascer rainhas virgens, tem sua entrada definida geralmente pela presença de raias convergentes de barro, algumas espécies destas abelhas podem produzir aproximadamente 8 litros de mel, outras podem ser maiores que as ápis melliferas.

Há uma interessante interação entre as abelhas indigena

Um dado curioso sobre as abelhas nativas é a chamada sindrome de polinização por vibração, as abelhas nativas possuem essa habilidade da qual dependem muitas espécies da Flora nativas, quando o gênero exótico Apis não possui. A polinização por estas abelhas tem destaque em ecossistemas naturais e agrícolas, sendo capazes de polinizar 30% a 90% da polinização da flora nativa. Além de produzir mel e alguns produtos medicinais, auxiliar no reflorestamento e identificação das espécies vegetais (Kerr 1997).

Apesar de não ferroarem, por ter o ferrão atrofiado, podem machucar pela força mandibular. Não existe nada mais ecológico do que criar abelhas silvestres, praticamente todas as culturas são dependentes de sua polinização. Algumas abelhas são subterrâneas e estão comprometidas pela mecanização das lavouras e uso crescente de agrotóxicos. O desmatamento crescente, o aumento da poluição e extrativismo de colmeias, por meleiros, tem acabado significativamente com populações, fica o apelo pela preservação.

Desde o ano 1990, apicultores e Meliponicultores do mundo todo tem observado o desaparecimento misterioso e repentino das abelhas, junto com declínio das colonias. As causas apontadas são os inseticidas, produtos químicos utilizados para matar insetos amplamente utilizados principalmente nas áreas em torno das lavouras. Só para termos idéias das importância um terço de todos os nossos alimentos dependem da polinização das abelhas (http://sos-bees.org/)




Fontes:

http://sos-bees.org/
http://www.webbee.org.br/beetaxon/
http://meliponas.blogspot.com.br/